Caros amigos e amigas do Brasil e do Mundo:
Circula na Internet um texto que pretende alertar todos nós sobre a iminente invasão norte-americana em Roraima, em busca de (pasmem!) PETRÓLEO. O autor do texto, ou os autores, após algumas informações superficiais colhidas sem critério numa rápida visita , atestam a atual ocupação e anunciam para breve a invasão total de Roraima.
O tema central do texto, essa previsão mirabolante e doentia, já causa espanto pela demência, pela paranóia e pela cara de pau. Com certeza, meus caros amigos e amigas, esse texto é de autoria do resquício mais nojento da ditadura militar no Brasil: a extrema-direita. Não esqueçam que foram eles, os ideólogos da extrema-direita, que divulgaram recentemente que nos livros didáticos dos estudantes norte-americanos, a Amazônia aparecia como de propriedade mundial. É aquela velha paranóia da ‘internacionalização da Amazônia’. Eu pensava que essa canalha já tinha se recolhido. Foi no colo deles que a bomba do Rio Centro explodiu. Eles sempre foram péssimos com artefatos explosivos, seja uma bomba, seja um texto na Internet.
Em primeiro lugar, é bom ressaltar, que o único currículo do autor do texto é ser ‘pessoa conhecida e séria’. Ora, isso é piada. Pessoa ‘conhecida’ de quem? Pessoa ‘conhecida’ e ainda por cima ‘séria’, aí já é demais. Séria? Pessoa séria escrevendo um texto desses? Fala sério!
Outro dado do texto é que o autor ‘passou em concurso e foi trabalhar em Roraima’. Lá, de repente, o recém-concursado tomou contato com um ‘Brasil que a gente não conhece”. Um Brasil onde ‘é difícil encontrar roraimense’. Ora, a sociedade roraimense é composta por brasileiros de todas as partes do Brasil. Brasileiros como esse autor do texto que foi para Roraima trabalhar, prestou um concurso e tal. Brasileiros que encontram em Roraima um lugar digno e bom, bem diferente da falta de oportunidades, da pobreza e – muitas vezes - da miséria na qual viviam em seus estados de origem.
A multiculturalidade de Roraima já rendeu até uma classificação dos seus habitantes: os roraimenses, que são aqueles que nasceram lá e amam sua terra; os roraimados, que são aqueles que não nasceram lá, mas foram pra lá, gostaram, adotaram e foram adotados pela terra e também amam a nova terra. E, por último, estão os roraimosos, oportunistas, golpistas, picaretas e abutres engravatados que foram para Roraima se dar bem, explorar, sugar, depredar e sair falando mal.
O autor aponta a diversidade cultural e a sócio-diversidade roraimense como responsáveis pela ‘falta de identidade com a terra’. Pena que o autor do texto só conversou, de acordo com ele, com ‘engenheiros, pessoas do povo e vendedores ambulantes’ . Tivesse ele visitado algum espaço cultural, teria tomado conhecimento do Movimento Cultural Roraimeira que grande contribuição prestou na construção da identidade roraimense nos últimos 25 anos. Quem quiser saber mais sobre o movimento basta ver o documentário Roraimeira – Expressão Amazônica, de Thiago Bríglia, exibido para todo o Brasil em 2009, na série DOC-TV da Rede Brasil.
O autor afirma que todos são funcionários públicos em Roraima. Inclusive ele, o autor do texto, que se diz aprovado num concurso para trabalhar em Roraima. Por que essa pessoa ‘conhecida e séria’ não chegou para trabalhar na iniciativa privada? A Economia roraimense é parcialmente movida com o dinheiro dos funcionários públicos porque fomos, durante 47 anos, o Território Federal de Roraima, área de segurança nacional, onde todos os empregos eram federais. E esse papo de que ‘não existe indústria de qualquer tipo’ é mentira, maldade e desinformação. Existe a Federação das Indústrias de Roraima – FIER – responsável atualmente por milhares de empregos.
As reservas indígenas, que o autor do texto parece odiar, é racismo mesmo. Um estado como Roraima, onde vivem 10 povos indígenas diferentes, precisa demarcar essas reservas para garantia da integridade e da sobrevivência desses povos. O autor revela total indignação de que o tráfego na rodovia BR174 seja suspenso durante a noite ‘para que os índios não sejam incomodados’.
Para falar a verdade, meus amigos e amigas, eu não sei como esse texto pode convencer ou impressionar alguém. Desculpem, mas ‘bandeiras americanas, inglesas e japonesas hasteadas nas entradas das reservas indígenas’ é doença mental. Se os índios falam sua língua nativa e outra língua é porque vivem na fronteira. Os que estão próximos da Guiana falam inglês, os que estão próximos da Venezuela falam espanhol. E até os habitantes de Boa Vista, que passam férias em Margarita, arriscam um portunhol.
O que causa espanto maior ainda é o no final do texto o autor afirmar que ‘saio de Roraima com a certeza de que em breve o Brasil vai diminuir de tamanho’. Ora, e o concurso que ele passou? E a oportunidade de ter, finalmente, um emprego digno e viver numa cidade linda? Será que ele ficou com tanto medo assim da invasão norte-americana? O que foi que ele viu em Roraima que saiu correndo e alertando a todos nós sobre o perigo da guerra?
Como sou roraimense e passei toda a minha vida convivendo com esse discurso colonizador e racista, sei exatamente o que pretendem os seus autores. Responsabilizar os índios pelo atraso Roraima, ajuda a esconder os verdadeiros responsáveis: os corruptos, os ladrões do dinheiro público. Inventar uma possível invasão norte-americana, mascara a invasão que está sendo feita por maus brasileiros que trabalham na extração criminosa da madeira e nos garimpos ilegais.
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